For those who don't know, Adolfo Luxúria Canibal is a big individual of the Portuguese music history being the founder of Mão Morta and having an important part as songwriter, composing to several bands like Wraygunn, Clã, Mundo Cão or Moonspell.
During his career, he was also a journalist, a music critic and lawyer.
As you can read here, the first edition - À Sombra de Deus I - Braga 88, was released in 1988 by Adolfo Luxúria Canibal and Berto Borges, other editions were released in 1994 and 2004 by Miguel Pedro.
The forth record of this compilation was released last June 4th, 2012 under the name À Sombra de Deus IV - Braga 2012.
With the purpose of this last release, we made some questions to Adolfo Luxúria Canibal. Check the original interview, in Portuguese, below.
FYMS: Em conjunto com o Berto Borges, o primeiro disco da colectânea, “À Sombra de Deus“, saiu em 1988. Como surgiu essa ideia?
ALC: Como uma forma de ficar com memória futura do que era a música que se fazia em Braga na primeira metade da década de 80. Mas como as bandas que a praticavam já estavam extintas, esse registo para memória futura acabou por recair sobre a música que se fazia em Braga na segunda metade da década, mais concretamente em 1988.
FYMS: Ao longo das diversas edições, incluem bandas que hoje em dia já estão extintas. Qual é o principal objectivo?
ALC: O principal objectivo, com a continuidade da série “À Sombra de Deus”, é ter uma monitorização do pop-rock bracarense ao longo dos tempos. E se, nas primeiras edições, isso equivalia a fazer os únicos registos dos seus protagonistas musicais, hoje em dia, em que o acesso e a facilidade de edição de discos está tão generalizada, o mais importante é mesmo a visão panorâmica, de conjunto, do que, num momento dado, se faz em Braga.
FYMS: De onde surgiu o nome “Á Sombra de Deus”?
ALC: Da contextualização do que é a música em Braga, cidade marcada e conhecida pela sua secular ligação à religião e a Deus. Apesar disso, apesar dessa imagem preponderante e totalitária, passam-se outras coisas em Braga, nomeadamente a nível musical. É disso que pretende dar conta o título “À Sombra de Deus”.
FYMS: Este projecto, é muito centralizado no panorama musical de Braga. Ponderam alongar-se para outras zonas do Norte ou mesmo do país?
ALC: Este é um projecto que visa apenas registar e monitorizar a música que se faz na cidade de Braga, nesse meio específico. Não nos interessa, para este efeito, o que se passa no concelho de Braga, fora da cidade, nem, muito menos, o que se passa noutros locais. Para retratar o que se passa em Barcelos, no Porto, em Coimbra ou em Lisboa estão lá pessoas de Barcelos, do Porto, de Coimbra ou de Lisboa que conhecem melhor cada uma dessas realidades e que o saberão fazer muito melhor que nós.
FYMS: Fez parte de uma banda, os Mão Morta, que foi incluída em todas as edições do “À Sombra de Deus”. Como se sente por ter idealizado este projecto? E como se sente ao ver que a sua banda é tão importante na história da música feita em Portugal?
ALC: Sinto-me contente que este projecto tenha sobrevivido e continuado sem mim e sem o Berto Borges, que o idealizámos, e que ao quarto volume possa a ele regressar. É um projecto que vale por si, que ganhou notoriedade com as suas quatro edições e granjeou o respeito da comunidade musical bracarense – e é sobretudo a esta, nas suas diversas metamorfoses, que o projecto deve servir, seja registando para o futuro o que vai criando, seja para lhe fundar uma história e um passado. E a mim, pessoalmente, só posso dizer que é uma honra poder contribuir para a existência deste pergaminho.
Quanto aos Mão Morta, é a sua longevidade, rara numa banda rock, que faz com que seja o único grupo a estar presente nos quatro volumes da colectânea “ À Sombra de Deus”. Quanto ao mais, os Mão Morta existem pela necessidade de cada um de nós se expressar musicalmente, é o nosso principal terreno de experimentação e aprendizagem musical – o facto de o resultado disso nos inscrever na história da música portuguesa dá-nos satisfação e orgulho, claro, mas não é esse o nosso objectivo…
FYMS: Qual foi a banda que teve mais gosto em ver crescer após terem sido “lançados” por estes discos, ao longo dos anos?
ALC: O exemplo mais paradigmático de crescimento foi o dos Rua do Gin, que foram revelados ao mundo no primeiro volume da colectânea e que ainda participariam no segundo. Também Tatsumaki, embora só apareça agora com esta designação, é um exemplo de crescimento de um músico, Marco Pereira, que surgiu pela primeira vez no segundo volume, integrado nos Wodka Technicolor, e que, sob diversas encarnações, nunca mais deixou de estar presente nos volumes seguintes. Por fim, não posso deixar de referir os Peixe:Avião, os Smix Smox Smux e o At Freddy’s House que, embora só agora surjam pela primeira vez no quarto volume e com nome já firmado no panorama nacional, não deixam de ser emanações evolutivas dos Freequency e dos Spank The Monkey apresentados no volume anterior. E para o futuro estou muito expectante relativamente aos Ermo, revelados neste quarto volume, bem como aos Long Way To Alaska, embora estes já não sejam propriamente uma revelação apesar do seu nome também só agora surgir num “À Sombra de Deus”.
FYMS: Tinham ideia de que este projecto continuasse ao longo de todos estes anos?
ALC: Não, quando nos anos 80 engendramos o “À Sombra de Deus” estávamos longe de imaginar que o projecto tivesse continuidade e que ganhasse a importância que tem hoje como monitorização da cena musical bracarense.
FYMS: O single de apresentação, deste 4º volume é a música Soul do Rock dos Balão de Ferro. Há alguma razão peculiar?
ALC: Não houve propriamente um single de apresentação deste quarto volume do “À Sombra de Deus”, embora o tema “Soul do Rock” dos Balão de Ferro acabasse por beneficiar desse estatuto. O motivo foi muito simples: foi a primeira banda que apresentou um videoclip do seu tema, para acompanhar a promoção!
FYMS: Como seleccionam os artistas que vão ser incluídos nas colectâneas? Acredito que seja um processo demorado e de certa forma, específico.
ALC: Não, é um processo relativamente pacífico. Como queremos que a colectânea seja um retrato, o mais fiel e abrangente possível, do que se passa em Braga, num momento dado, em termos de pop-rock, limitamo-nos a fazer o levantamento de quem tem editado e feito concertos nos últimos doze meses de forma continuada, pública e relevante. Encontrados os protagonistas, depois é só convidá-los, proporcionando-lhes as condições para que gravem um tema para a colectânea.
FYMS: Quando surgiu a hipótese de se lançar este 4º volume, em conjunto com a Capital Europeia da Juventude, quais eram os receios e expectativas?
ALC: Os receios têm sempre e só a ver com o financiamento, que o dinheiro seja disponibilizado a tempo e horas para todos os compromissos poderem ser pagos também atempadamente. Há sempre alguma expectativa sobre o que cada banda vai fazer, embora, à partida, já saibamos como é o seu som e os parâmetros estilísticos em que se movem. Apesar disso, o que esperamos pode sempre sair furado ou ultrapassado – e neste caso concreto do quarto volume as nossas expectativas foram, felizmente, largamente superadas!
FYMS: O Adolfo Luxúria Canibal é um nome sonante e também muito emblemático da nossa música. Como reagem as bandas quando sabem que está envolvido neste projecto?
ALC: Eu não tenho essa percepção. O que posso dizer é que as bandas reagem muito bem e com grande contentamento e empenho quando são convidadas para integrarem a colectânea, por ser a colectânea “À Sombra de Deus” e não por eu estar, de alguma forma, ligado à mesma.
FYMS: Alguma vez achou que este projecto seria impossível de ir para a frente?
ALC: Não. Quando uma porta se fecha bate-se a outra porta. Há sempre mais portas, é questão de esperar…
FYMS: O que acha da música Portuguesa, feita hoje em dia?
ALC: Acho que está numa boa fase, quantitativa e qualitativamente. Pena é que não seja acompanhada mediaticamente, como acontecia até há uma década atrás, e que apenas o que acontece em Lisboa, muitas vezes de forma descaradamente empolada, é notícia. Felizmente existe a internet, para Portugal conseguir ter ecos do que se passa em Portugal e não apenas em Lisboa.
FYMS: Consegue destacar alguns nomes que ultimamente o tenham cativado? Porquê essas bandas?
ALC: Fora da cena bracarense, posso referir os Black Bombaim ou os Alto!, ambos da cena de Barcelos e com fabulosos discos recentes, ou da cena de Coimbra os A Jigsaw, também com um belíssimo disco novo.
FYMS: Como músico e impulsionador da música jovem, que conselhos daria aos artistas que estão a começar a sua carreira?
ALC: O único conselho que posso dar é para não desistirem e acreditarem no que fazem.
FYMS: Há planos para uma próxima edição, do “À Sombra de Deus“?
ALC: Planos há, para daqui a uns anos…
FYMS: Agora as perguntas da praxe...
a) Um dia…
ALC: É sempre uma boa altura para fazer qualquer coisa.
b) A melhor coisa que podem dizer sobre mim…
ALC: Depende da pessoa que o disser.
c) E a pior…
ALC: Também depende muito de quem o disser.
d) Daqui a dez anos…
ALC: Espero que os políticos sejam todos enforcados nas cordas da vergonha.
FYMS: O que diria aos leitores do nosso site?
ALC: Que se divirtam a ouvir este “À Sombra de Deus IV – Braga 2012” e que tirem da sua audição tanto prazer quanto o que nos deu, a todos nós, fazê-lo.
note: an English version of this interview can be released, if requested.
[Special thanks to Adolfo Luxúria Canibal for his kindness and disponibility and to Raquel Lains for everything]
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